Você sabia que o jogo do bicho é uma das instituições de jogo mais antigas do Brasil e que sua criação se remete ao início de nossa república? Sim, existe muito mais sobre o jogo do bicho do que a maioria imagina.
Apesar de seguir os modelos de aposta mais tradicionais e que foram importados da Europa, o jogo do bicho é uma invenção totalmente brasileira, já que nenhuma outra loteria utilizava variados animais como referência em seus lances.
Para saber mais sobre essa e outras curiosidades, separamos para você alguns fatos sobre a história do jogo do bicho, a loteria mais tradicional do Brasil e que vem atraindo novos apostadores a mais de 120 anos.
De onde surgiu o jogo do bicho?
Pode parecer curioso para muitos que uma contravenção penal tenha origem nobre, mas o jogo do bicho surgiu como uma iniciativa para garantir a alimentação de animais mantidos em cativeiro em um zoológico do Rio de Janeiro.
No ano de 1892, logo após a proclamação da república, o Brasil passava por uma severa crise financeira fruto do borbulhante e novo mercado de bolsa e ações de empresas. Nesse período, muitos nobres viram suas fortunas ruírem; algo que aconteceu também com o Barão João Batista Viana Drummond.
Ele era fundador e mantenedor do jardim zoológico do Rio de Janeiro, que na época ficava no bairro de Vila Isabel; e sem recursos para garantir a manutenção dos animais que estavam sob sua responsabilidade, passou a pensar em alternativas para atrair mais visitantes — e por consequência, aumentar o faturamento com os ingressos.
Na época era comum a utilização de pequenos prêmios e sorteios como forma de estimular as compras, afinal, com a população passando por uma severa crise financeira, locais que ofereciam bônus eram muito mais atraentes. Percebendo isso, o barão decidiu inovar e mandou imprimir nos ingressos do zoológico a figura de 25 animais.
Utilizando os animais como referência, ao final de cada dia o barão realizava um sorteio com o nome dos bichos e aquele que possuísse o ingresso com a imagem do animal sorteado, receberia como prêmio o equivalente a 20 ingressos em dinheiro.
Assim, não demorou para que o número de visitantes do zoológico aumentasse consideravelmente — assim como a renda dos animais —, e rapidamente o jogo do bicho tornou-se conhecido, chegando a ser aclamado como uma boa iniciativa nos jornais da época.
Porém, com o passar do tempo, o barão percebeu que os visitantes não estavam mais tão interessados em visitar os animais quanto estavam em participar dos sorteios diários, e em 1894, no lugar de oferecer um bilhete por visitante, passou a liberar a compra de bilhetes avulsos, para que cada visitante pudesse concorrer quantas vezes desejasse e a partir disso começou a saga legal do jogo do bicho.
O processo de ilegalidade
Ao perceber o aumento considerável da exploração do jogo, a polícia do Rio de Janeiro revogou a autorização que havia fornecido inicialmente ao barão por ter considerado que o jogo do bicho tinha deixado de ser uma modalidade de sorteio para se tornar um jogo de azar.
Porém, a tentativa de inibir a jogatina não deu certo. Ao invés de diminuir a quantidade de apostadores, essa proibição tornou os bicheiros — como eram chamados os que, até então, eram revendedores dos cartões do bicho do zoológico — ainda mais fortes, já que sem os sorteios realizados pelo barão, eles tomaram a liderança e passaram a produzir os cartões e realizar os sorteios por conta própria.
Inclusive, foi a partir deste momento que o resultado do jogo do bicho passou a ser anexado nos postes próximos aos pontos de aposta, o que originou, a partir daí, a expressão “deu no poste”.
Assim, o jogo do bicho RJ que era restrito a atividades no zoológico, passou a estar presente em inúmeros pontos da cidade e não demorou até tomar outras regiões do Brasil.
A partir de 1944, com a promulgação do decreto-lei 6259, o jogo do bicho passou a ser considerado oficialmente ilegal.
A Lei, que dispõe sobre o serviço das loterias do Brasil, especifica o jogo do bicho como uma contravenção penal e detalha as possíveis consequências legais para os vendedores e banqueiros do bicho. Vale destacar ainda que o crime é específico para os gestores e vendedores do bicho, não cabendo nenhum tipo de punição para quem deseja apenas apostar.
O jogo do bicho pode se tornar legal?
A legalização do jogo do bicho é algo ambicionado por jogadores e gestores de jogos de azar em inúmeros níveis, já que apesar de proibido, o jogo do bicho segue movimentando bilhões de reais anualmente e atraindo cada vez mais apostadores.
O mesmo acontece com as apostas esportivas, que não possuem regulamentação, mas crescem cada vez mais entre o público brasileiro.
Hoje é possível jogar em operadores internacionais, que já contam com estrutura para atender jogadores do Brasil. Existem diversos mercados de apostas e você conta ainda com prognósticos de apostas para fazer bons palpites.
Dada a força desse movimento, foi apresentado em 2014 pelo senador Ciro Nogueira, do Piauí, um projeto de lei que visa dispor sobre a exploração de jogos de azar e inclui regras para a realização do jogo do bicho.
O projeto, inclusive, passou por audiência pública, onde a população mostrou-se favorável à sua legalização. Espera-se que, ao término da tramitação, o jogo do bicho possa ser novamente legalizado, garantindo uma maior segurança e transparência para apostadores de todo o país.